domingo, 12 de junho de 2011


Bati à porta. Ninguém apareceu para atender, então, eu entrei, e a vi sentada, com a mesa de jantar posta.
Parecia uma estátua. Esperando esperançosa de que o impossível aconteceria, e que ele voltaria para o jantar daquela noite – isso foi o que eu imaginei.
Ali observando àquela cena um pequeno filme de grande conteúdo passou por minha cabeça. Recordações, pensamentos, indagações e dor, tudo senti e vivi vendo aquela pobre mãe esperar seu filho que não mais retornaria.
 - Dona Maria? – disse baixinho para não assustá-la.
- Oi minha filha. Não vi que tinha chegando, tudo bem? Sente-se e fique para o jantar.
- Desculpa ter entrado, é que bati à porta, mas ninguém foi até lá, então, decidi verificar se a senhora estava bem.
- Estou sim, estou bem! – Exclamou ela, tentando fazer-se estar bem.
Me sentei com ela na mesa. Senti vontade de chorar, naquela hora desejei ter um Deus para pedir à Ele forças, mas fato é que com a morte dele o meu Deus também morreu. Naquela hora em especial tive ainda mais certeza de que Ele não poderia existir...
- Então, veio passar o final de semana, filha? – disse ela tentando encontrar um assunto para quebrar aquele frio e triste silencio, que só não era completo pelo som dos talheres batendo no prato.
- Na...  Não! – hesitei dizer o real motivo de ter voltado àquela cidade – cheguei ontem à tarde... Vim... Bem, vim para a missa.
- Ah, a missa foi linda, não foi? Estive lá, apesar de não ser católica quis participar, pra ver se ali ainda encontrava um pedacinho do meu filho vivo – uma lágrima correu no rosto dela, abrindo caminho para muitas minhas – e eu encontrei um monte de pedacinhos do meu filho. Vi você no discurso, vi os amigos, os primos, os tios, os colegas... E todos que amaram ele, e os vi sentindo a falta dele e dizendo á ele que continuariam exercendo o papel de amigos e companheiros. Vi que a vida do meu filho não foi em vão e que ele estará sempre vivo dentro daqueles que realmente o amou em vida.
- Eu sinto muito, dona Maria. Sinto por não ser assim tão forte quanto a senhora. Sinto mais ainda por ser apenas uma humana, que nada posso fazer para mudar o que houve e trazê-lo de volta.
- Trazê-lo de volta, filha? Não... Você realmente não entendeu nada, não é?
Parei de chorar e fixei meu olhar nos olhos tristes e chorosos dela, senti  uma dor incomparável, nunca me preparei para tal momento, mas eu não pude evitá-lo e ele chegou!
- Não, eu acho que não entendi. – curvei minha cabeça e fixei o olhar em minhas mãos.
- A morte minha filha é triste apenas pra quem não a recebe, porque nós continuamos vivos e, como você disse apenas seres   humanos que nada podemos fazer além de agirmos como tais e termos nossos sentimentos guiando-nos. Ele se foi, mas não foi pela doença, muito menos por negligência, apenas se foi porque já havia cumprido seu papel aqui. Viver minha filha é ser como Jesus, é ficar um tempo suficiente nesta Terra para sermos imortais, imortais digo não fisicamente como alguns pensam, mas imortais dentro das pessoas que nos amaram em vida e amarão em morte.
O silêncio tomou conta da  casa... sequer o som dos talheres havia. Me levantei, passei a mão no rosto para enxugar minhas lágrimas e a abracei, como uma forma de agradecimento.
- Acredito e confio na senhora e prometo a ti, à mim e à ele que jamais tristeza alguma sentirei por sua morte, alegrar-me-ei todos os dias por ter tido ele em minha vida e por tê-lo para sempre e sempre em mim.
Pela mesma porta que entrei saí, mas jamais passarei por aquela porta como entrei...

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